Desde os momentos iniciais, Gladiador II se impõe como um espetáculo visual grandioso. Ridley Scott retoma todo seu domínio sobre o gênero péplum para apresentar uma Roma recriada em escala monumental – com cenários, figurinos e cores que transportam o espectador ao centro político e gladiatorial do Império. A direção de arte de Arthur Max e fotografia de John Mathieson, veteranos do primeiro filme, elevam novamente o padrão de reconstrução histórica, com cenários construídos de forma prática em grande parte (incluindo um Coliseu cerca de 40 % em tamanho real), do que cenas inteiras em estúdio ou efeitos digitais puros.
O filme tem ritmo eficaz: embora o metragem alcance 148 minutos (quase duas horas e meia), não se sente cansativo. Ao contrário, a narrativa flui com intensidade crescente — alternando combate, intrigas políticas e reviravoltas — de modo que o tempo literalmente escapa da percepção do público. Uma façanha que só os melhores blockbusters conseguem.
Curiosamente, essa sequência se sente mais envolvente e intensa do que o primeiro filme, especialmente por não contar com o retorno de Russell Crowe. Ao meu ver, isso é ponto alto: Crowe, interpretando Maximus, foi levado à condição de herói absoluto no original, mas sempre me pareceu um ator que se vende com vaidade dramática — será um alívio para muitos espectadores o foco recair sobre novos protagonistas e antagonistas, sem o peso do culto à personalidade central da franquia.
Neste Gladiador II, Paul Mescal assume como Lucius Verus, filho perdido de Maximus, traz uma energia orgânica e crua – sem o excesso de erudição ou ar autoimportante que Crowe carregava. A equipe de roteiristas e Scott conseguem assim renovar o universo, mantendo ecos da obra original, mas propondo uma nova experiência emocional e viva.
Um dos aspectos surpreendentes do longa é o tratamento absolutamente caricato e satírico dos imperadores Geta e Caracalla (interpretados por Joseph Quinn e Fred Hechinger). Sua irracionalidade, surtos e atitudes absurdas transformam-nos quase em personagens de comédia — uma sátira bem-vinda contra os tiranos históricos exagerados, pintando-os como figuras ridículas que minam sua própria autoridade por excesso de teatralidade e autodestruição. Nos tornamos espectadores e críticos internos desse circo político decadente: o humor negro emerge da própria forma grotesca como o poder é exercido.
As cenas de luta são, sem exagero, o ponto alto técnico do filme: coreografias espetaculares, tomadas amplas e cortes precisos que mantêm a tensão e tornam cada golpe crível. A luta na água – com navios inundando o Coliseu e tubarões circulando — é um espetáculo de grandiosidade e ousadia visual, um dos momentos mais impressionantes de todo o péplum moderno. Apesar de críticas sobre algumas criaturas digitais (babuínos, rinocerontes, tubarões) parecerem pouco convincentes, o conjunto — som, coreografia e direção — mantém o fascínio e a imersão.
Os efeitos visuais, embora nem sempre impecáveis, contribuem para a sensação de espetáculo. Alguns reviewers apontam inconsistências visuais em animais ou cenas menores, mas no geral o impacto dramático e visual supera as falhas pontuais.
A composição sonora, assinada por Harry Gregson‑Williams – que sucede Hans Zimmer – imprime um pulso rítmico e emocional intensificado às cenas de ação, evocando ecos do original mas com frescor próprio.
Quanto a Denzel Washington como Macrinus, confesso que sua atuação me pareceu adequada, mas não grandiosa. Ele tem presença em cena e algumas falas bem colocadas, mas seu personagem acaba funcionando mais como coadjuvante ativo, não como figura central ou trilha de profundidade emocional. Houve quem aplaudisse sua interpretação como um "roubador de cena" ou aclamasse sua performance como "icônica", mas eu vejo esse elogio como amplificado por fãs de Washington, sem que ele realmente entregue algo de excepcional. Não me convenceu que merecia indicação a Oscar — ao menos nestas circunstâncias e não com tanto clareza quanto alguns afirmaram. Para mim, não foi um desempenho memorável o suficiente, considerando o hype que se formou em torno disso.
Em resumo: um épico que entretém profundamente, que moderniza sem perder o pulso do original, com ação vibrante, narrativa potente e algumas provocações cômicas sutis — um ver‑me‑pronto para plateias que buscam emoção, grandiosidade e uma pitada de escárnio político em forma de cinema.