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agosto 22, 2025

Prédio Vazio (2025)

 


Título original: Prédio Vazio
Direção: Rodrigo Aragão
Sinopse: A jovem Luna parte em uma jornada em busca de sua mãe que desapareceu no último dia de carnaval em Guarapari. Suas buscas a levam a um antigo edifício que parece vazio, mas que na verdade é habitado por almas atormentadas.


Rodrigo Aragão, veterano do horror nacional, entrega com Prédio Vazio (2025) um filme que, mais do que falhar, desmorona de forma constrangedora. Ambientado em Guarapari, o gênero aqui parece prostituído por escolhas estéticas que nunca colam, numa produção que mais parece uma experiência experimental falha de escola de cinema.

Logo se nota que Prédio Vazio, apesar de sonhar alto com influências de Dario Argento, terror psicológico japonês e o grotesco de Zé do Caixão, se perde em sua pretensão. A proposta poderia, quem sabe, soar interessante — um terror urbano, num prédio abandonado povoado por almas atormentadas; uma fotografia vibrante, atmosfera sufocante, cor e sombra disputando a tela. Mas o abismo entre a ideia e o produto final é vasto. O que poderia ser um deslumbre visual se transforma num desfile de mediocridade técnica e narrativa.

Aragão se orgulha de utilizar efeitos práticos — e vai lá tentar emocionar com tubos de sangue, próteses e maquiagem artesanal. O problema? A execução é tão precária que o que chega à tela cheira a caridade em vez de arte. Os modelos se desfazem sob a iluminação, a textura é plástica, os demônios — se é que podemos chamar assim — parecem bonecos de quinta categoria. É impossível não cochilar diante de cenas que tentam ser bizarras, mas acabam apenas bizarras de tão mal feitas. Se houvesse um manual de "como destruir uma boa ideia com técnicas pífias", Prédio Vazio seria a ilustração curricular.

Dizem que o filme foi feito com cerca de R$ 100 mil, orçamento modesto e apoio de edital — realidade comum no cinema nacional. Mas isso não justifica o nível de incompetência técnica manifesta. Compare isso com A Herança (2024), de João Cândido Zacharias — também de baixo orçamento, mas que fez um trabalho que beira a perfeição. A Herança mostra que criatividade, bom senso e profissionalismo podem erguer uma obra com menos, enquanto Prédio Vazio desce ladeira abaixo. Portanto, faltar dinheiro não é desculpa quando se tem talento — talento que simplesmente aqui evapora.

Lorena Corrêa (Luna), Caio Macedo (o namorado) e Rejane Arruda (a mãe) representam de forma tão apática, tão sem química, que me fez lembrar dos diretores que viram cada departamento como “o que tem que ser feito” — e atores que só repetem falas como papagaios. São pausas intermináveis entre as falas, olhares vazios, reações tardias — tudo grita “turma de audiovisual tentando ser atriz”. Gilda Nomacce, a zeladora, até tenta salvar algumas cenas, mas sequer é bem aproveitada pela montagem — que parece desconectada de qualquer lógica emocional. O elenco, como um todo, entrega performances que beiram risíveis, onde o exagero não funciona como linguagem poética, mas sim como piada involuntária.

A história de Luna indo atrás da mãe desaparecida após um sonho premonitório é quase uma piada de mau gosto. A motivação é rasa e as relações familiares são pouco críveis. Toda a jornada se desenrola como uma sucessão de cenas desconexas, fragmentadas, que lembram curtas metragens aleatórios costurados sem cola: vislumbres do grotesco, aparições que não explicam, diálogos fragmentados, pausas que brotam do nada. Nora, a construção da mitologia, dá poções sem sabor — um caldo de “quero dizer algo” que não diz nada de fato, um vazio que dança na tela. O edifício que deveria aterrorizar soa como cenário de peça escolar mal ensaiada.

A proposta — terror urbano, esteticamente ousado e profundamente brasileiro, com um olhar sobre abandono urbano e emocional — é eficiente em palavras, mas na prática é devorada pela própria pretensão. Ao contrário do que se pretendia, não há sustos — os poucos que tentam existir nascem e morrem na mesma cena, sem impacto. O que resta é a frustração. A obra não provoca reflexão, nem incômodo visceral num bom sentido — só deixa um gosto de promessa não cumprida. Cinematicamente, é um edifício que desaba sob o próprio peso ambicioso.

Sem dúvida, assistir Prédio Vazio é uma experiência aterrorizante — mas no pior sentido: não de terror visceral, mas de ser uma produção tão mal feita que se torna difícil de acreditar que chegou à tela. E esse tipo de horror — o horror de ver tanto potencial devastado — é o mais doloroso.

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