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dezembro 11, 2025

Nos Seus Sonhos (2025)

 


Título original: In Your Dreams
Direção: Alex Woo
Sinopse: Um casal de irmãos viaja pela paisagem absurda dos próprios sonhos para pedir ao Sandman que realize seu desejo de uma família perfeita.


Nos Seus Sonhos tenta ser uma obra encantadora sobre a imaginação infantil e os laços familiares, mas acaba tropeçando em ideias soltas e numa narrativa que parece não saber exatamente para quem está destinada. A animação, disponível na Netflix desde novembro de 2025, coloca dois irmãos numa odisseia pelos próprios sonhos para encontrar o mítico Sandman e, com isso, “consertar” a família em crise. Essa configuração poderia render um filme sensível sobre mudança e medo, mas o roteiro não encontra consistência entre sequências surreais e reflexões mais profundas sobre os personagens, resultando numa experiência que muitas vezes confunde em vez de envolver. 

Visualmente, o filme tenta impressionar. Os cenários oníricos são repletos de cores e formas extravagantes, criaturas bizarras e transições de plano que colocam o espectador literalmente dentro de um sonho. Esses momentos de criatividade plástica lembram muito o estilo das grandes animações familiares, como os clássicos da Pixar, mas ficam mais próximos de uma colagem de referências do que de uma visão própria e original. A estética é vistosa, sim, mas falta-lhe uma personalidade própria que a sustente fora dos efeitos visuais. 

O maior problema é justamente esse: o filme parece ter um pé em várias tradições da animação moderna sem realmente dominar nenhuma delas. Ele mira simultaneamente crianças e adultos, mas termina num território que deixa ambos decepcionados. A sensação que se tem é de um produto que tentou assimilar a profundidade emocional de sucessos familiares e a energia caótica dos sonhos, mas não soube balancear esses elementos de modo que um complemente o outro. 

Narrativamente, a história nunca engrena de verdade. Passagens que poderiam aprofundar a relação entre os protagonistas se diluem em cenas de humor deslocadas ou em ambientações oníricas que parecem existir apenas para impressionar com formas e cores, sem impacto real na evolução dos personagens. O arco dramático dos irmãos se dispersa em meio a uma sucessão de situações que mais parecem esquetes soltas do que etapas de uma jornada coerente. 

A tentativa de ecoar o estilo das grandes animações também se estende à forma como o filme lida com emoções familiares complexas — como separação, medos infantis e aceitação — mas essas camadas mais densas são deixadas de lado em prol de um desenvolvimento simplista que não explora verdadeiramente o potencial do tema. Isso só reforça a impressão de que não há uma mão firme guiando o roteiro: o espectador se vê empurrado de um sonho visualmente chamativo para outro, sem a sensação de progresso dramático que sustenta narrativas verdadeiramente memoráveis. 

Tecnicamente, a animação é competente — o design de personagens e a fluidez de movimento têm momentos agradáveis — e em certas sequências é possível reconhecer a habilidade da equipe criativa em imaginar cenas que escapam da literalidade do mundo real. Mesmo assim, essa competência plástica nunca é capaz de compensar a fragilidade da história. O ritmo oscila, ora lento e sem tensão, ora apressado demais, sem conseguir criar crescendos emocionais que realmente importem.

Um dos poucos aspectos que se salva é a música. A escolha de músicas reconhecidas internacionalmente e sua adaptação ao contexto do filme traz energia e nostalgia em alguns trechos, funcionando como um ponto de conexão com o público que, de outra forma, poderia se desinteressar completamente. A trilha sonora original também ajuda a dar algum corpo às sequências mais dramáticas, mas é exatamente aí que se percebe o contraste entre uma composição sonora com potencial e um roteiro que não sabe exatamente como capitalizar emocionalmente essas oportunidades. 

A tentativa da Netflix de construir um produto de animação que converse com a tradição de estúdios mais consagrados é evidente, mas a execução revela que ainda há um longo caminho até que esse tipo de produção consiga se afirmar por mérito próprio. Ao buscar um meio-termo entre humor, fantasia e sentimento, Nos Seus Sonhos acaba ficando à deriva, com momentos bonitos que não se conectam entre si e um conjunto que se torna facilmente esquecível.

No fim das contas, essa animação não encontra público claro. Nem os adultos encontram profundidade emocional suficiente para justificar o investimento de tempo, nem as crianças recebem personagens ou acontecimentos simples e cativantes o bastante para que a narrativa lhes pareça clara e envolvente. O resultado é um filme visualmente ambicioso, com musicalidade competente, porém incapaz de converter esses pontos fortes em uma experiência cinematográfica satisfatória e coerente. 

Não nego a competência técnica presente em algumas partes, mas reforço que técnica sem uma base narrativa sólida e personalidade própria dificilmente transforma uma obra em algo que permaneça na memória de quem assiste. Aqui, as imagens e sons coexistem sem realmente se fundirem numa proposta artística consistente, deixando Nos Seus Sonhos à mercê de lembranças fugazes — sonho que se dissolve ao amanhecer.