Desde o início, Morra, Amor se revela um filme extremamente irregular, completamente desinteressante. A promessa de algo visceral, íntimo e perturbador — algo que poderia apenas resistir com competência — logo se desfaz na tela, transformando-se numa sucessão de cenas desconexas, comportamento errático e um ritmo falho que parece se arrastar sem propósito real.
Sendo fã do cinema de Lynne Ramsay — especialmente tendo em mente Precisamos Falar Sobre Kevin, um dos meus filmes prediletos de todos os tempos — me surpreendeu (e decepcionou) profundamente que uma diretora de seu porte conseguisse entregar algo tão deslocado da realidade e tão pouco convincente. O contraste entre suas capacidades em obras anteriores e o que ela apresenta aqui é doloroso. Este longa, infelizmente, não honra o legado de delicadeza psicológica ou tensão contida que Ramsay já demonstrou saber dominar — ao contrário, parece incapaz de sustentar coerência dramática ou empatia narrativa.
Tecnicamente, o filme também falha quando se trata de estética. Apesar de uma concepção visual que, em teoria, poderia evocar o desespero interior da protagonista — com fotografia fria, ambiente rural sucateado, tentativas de mesclar o real com o alucinatório —, não há nada em Morra, Amor que possa ser descrito como bonito ou esteticamente satisfatório. As cenas noturnas podem até ter uma “ligação onírica”, mas o resultado final não emociona: em vez de expressar algo sensível ou comovente, produzem repulsa, confusão ou tédio, pois faltam ritmo, clareza narrativa e justificativa emocional. Há beleza em potencial, mas ela simplesmente não desemboca em arte.
Quanto às interpretações: a atuação de Jennifer Lawrence como Grace — a mãe jovem e mentalmente instável — ainda é o pilar do filme, mas, longe de gerar compaixão ou empatia, me provocou desde o primeiro momento em tela uma raiva extrema pela personagem. Grace é construída como alguém errática, agressiva, instável — e a intenção aparente do filme de demonstrar sua degradação psicológica não resulta em empatia, mas em desconforto puro e crescente irritação. Não há humanidade palpável na personagem; há só instinto desnorteado, histeria, impulsos brutos — e quem assiste, no meu caso, não sente pena: sente-se exasperado. A instabilidade da protagonista não nos aproxima dela, pelo contrário: nos afasta, como se estivéssemos diante de uma caricatura confusa em crise, nunca de uma pessoa real sofrendo.
Em contraste — e aqui talvez esteja o único ponto que me convenceu — Robert Pattinson, no papel de Jackson, consegue transmitir uma vulnerabilidade quase poética frente à tempestade emocional de Grace. Ele funciona como âncora em meio ao caos: seus momentos de contenção, sua paciência silenciosa, suas explosões discretas quando o desespero se torna insuportável — tudo isso me causou mais empatia do que a protagonista conseguiu gerar. Pattinson está, sem dúvida, entre os melhores pontos do filme: sua interpretação nos mostra o abandono, a impotência, o conflito de conviver com uma pessoa quebrada internamente e ao mesmo tempo amada — alguém que tenta, sem saber como, salvar um casamento em ruínas. Para mim, ele é o único personagem que desperta compaixão honesta. Ele vem se mostrando recentemente um excelente ator — com postura madura, conteúdo psicológico — e aqui reafirma essa qualidade, com momentos de sutileza e também de explosão dramática, bem justificados pelo texto. Sua performance sustenta aquilo que o filme muitas vezes abandona: a dimensão humana real, o sentimento de impotência, o amor misturado ao medo.
Mas apesar de Pattinson, de vez em quando, proporcionar lampejos de algo palpável e válido, o resultado final permanece depressivo, confuso e, sobretudo, vazio. A estrutura narrativa desandada — com misturas vagas de sonho, alucinação, passado e presente —, as relações pouco desenvolvidas, a quase total falta de contexto (quem eram eles antes? Como era a vida dessa mulher fora daquele isolamento rural?) impedem que o filme atinja qualquer profundidade verdadeira. O espectador não é convidado a entender, mas apenas a suportar: suportar gritos, suportar comportamento errático, suportar uma sucessão de cenas brutais e desconfortáveis sem ar de significado real. Em vez de um mergulho psicológico, temos uma languidez que parece se arrastar para lugar nenhum.
Tinha potencial para ser um retrato cru da maternidade, da loucura, da alienação — até porque o material original (o romance de Ariana Harwicz) é conhecido por sua força visceral. Mas a adaptação, assinada por Ramsay junto com Enda Walsh e Alice Birch, além de comprometer a coerência, elimina quase completamente a possibilidade de empatia ou qualquer sutileza emocional verdadeira. A impressão final é de que o filme tenta chocar, tenta impressionar com brutalidade, com violência simbólica e literal — mas esse estilo acaba se tornando um peso que impede a fluidez cinematográfica.
Portanto, Morra, Amor é menos um filme sobre dor, angústia ou loucura real — e mais um experimento estético desconexo, que exige do espectador uma resistência que não compensa. Não é um retrato sensível nem empático; não é bonito; não é compreensível. A intenção pode ter sido nobre, mas o resultado é fracasso artístico e narrativo.
Em resumo: esse filme falha em quase todos os níveis — mérito, coerência, estética, empatia. E embora reconheça os méritos de Robert Pattinson neste longa (sua atuação é um dos poucos elementos que realmente funcionam para mim), eles não bastam para salvar um filme que, no fim das contas, se mostra insustentável e, para mim, insuportável.
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