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dezembro 09, 2025

Just Breathe (2025)

 


Título original: Just Breathe
Direção: Paul Pompa III
Sinopse: Nick Bianco sai em busca de se reconectar com o amor de sua vida após cumprir um ano de prisão por agressão, apenas para descobrir que ela tem um novo admirador chamado Chester… que, por ironia do destino, também é seu oficial de condicional.


Just Breathe chega com a promessa (e a falha) de ser um thriller íntimo e contundente sobre redenção, ciúme e violência contida; dirigido por Paul Pompa III e estrelado por Kyle Gallner, Shawn Ashmore, William Forsythe e E’myri Crutchfield, o filme aposta tudo num conflito de proximidade — homem que volta da prisão, amante que tenta reconstituir a vida e um oficial de condicional que transborda autoridade — e, ainda assim, tropeça nas próprias intenções. 

A premissa é direta e fácil de explicar: Nick sai da prisão e vai atrás de quem ama, só para descobrir que ela agora convive com Chester, seu oficial de condicional — situação que deveria gerar tensão crescente e imprevisível. Essa tensão, no entanto, é tratada de forma desigual; nas melhores passagens há um trabalho de construção de atmosfera que faz o espectador sentir o ar rarefeito entre os personagens, mas essas fagulhas ficam aquém de um incêndio narrativo, porque o roteiro parece dividido entre dois filmes: um melodrama de redenção e um thriller de vingança. O equilíbrio entre os polos nunca se resolve — a narrativa insiste nas mesmas viradas previsíveis e, quando tenta surpreender, o faz por meio de escolhas estilísticas que parecem compensar a fragilidade dramática ao invés de resolvê-la. 

Tecnicamente, Just Breathe tem intenções honestas. A fotografia busca proximidade: enquadramentos fechados, planos médios que exploram as sutilezas de expressão dos atores e uma paleta suja que sublinha o ambiente de periferia e pequenas habitações onde a claustrofobia social se manifesta. Esses recursos funcionam por momentos, porque conseguem traduzir a angústia latente do protagonista — há cenas em que o silêncio e o deslocamento de câmera dialogam bem com a atuação contida de Kyle Gallner. Ainda assim, a direção de fotografia é vítima do roteiro: sem um ganho dramático consistente, muitos planos soam como meras texturas estéticas que não se amarram a um desenvolvimento temático sólido.

A edição tenta manter o pulso do filme, mas padece de duas fraquezas: primeiro, um ritmo que oscila demais entre o arrastado e o expositivo; segundo, cortes que escorregam para o óbvio no momento em que deveriam intensificar a ambiguidade moral dos personagens. Em vez de criar crescentes camadas de dúvida, a montagem frequentemente resolve o conflito por elipses preguiçosas ou por explicitar demais o que poderia permanecer subentendido — estratégia que empobrece a experiência de engajamento emocional e diminui o impacto das escolhas finais do filme.

No campo das atuações, há lampejos. Kyle Gallner constrói um Nick de pulsões contidas, raiva mesclada a vulnerabilidade; quando o filme lhe concede tempo, ele entrega momentos de autenticidade que lembram o trabalho de atores menores que sabem extrair profundidade de situações limitadas. Shawn Ashmore, como o oficial que se transforma em rival, tem presença física e energia controlada, mas a escrita do personagem não o ajuda a ultrapassar a caricatura ocasional do “homem de autoridade potencialmente corrupto”. William Forsythe, em papéis menores, empresta um tom áspero e reconhecível que alivia o conjunto — atores experientes seguram trechos do filme, mas não o suficiente para elevá-lo. E’myri Crutchfield, no papel central à motivação de Nick, oscila entre reações genuínas e momentos em que o roteiro a utiliza como peça de movimentação narrativa, sem interiorizar plenamente seu ponto de vista.

O problema estrutural de Just Breathe é que ele confunde densidade com complexidade. Há tentativas de falar sobre culpa, sobre vigilância institucional e sobre as pequenas violências do cotidiano, mas o filme, ao reunir essas temáticas, não se compromete o bastante com nenhuma. O que deveria ser um estudo íntimo sobre como a sociedade e suas regras transformam o retorno de um homem em campo minado torna-se uma sucessão de conflitos externos e reações previsíveis. A consequência é que, nos momentos em que a narrativa alcança alguma profundidade — uma conversa mal conduzida, um olhar que diz mais que as palavras — o impacto é apagado por cenas que priorizam a exposição ou por soluções morais fáceis.

Do ponto de vista sonoro, o filme utiliza silêncio e som ambiente com certo tino, tentando criar uma textura áudio-dramática que sustente a tensão. Quando a trilha sonora entra, ela costuma sublinhar demais, em vez de sugerir; faltam camadas sutis que poderiam transformar pequenos detalhes em presságios eficazes. A mistura sonora, por sua vez, é correta, mas pouco inventiva — cumpre a função sem acrescentar um nível extra de inquietação que o thriller pede.

Há também uma sensação de produção enxuta que, quando bem canalizada, poderia ser virtuosa; em Just Breathe, porém, muitas soluções de baixo orçamento aparecem como limitações estéticas (cenários reduzidos, poucas locações) e não como escolhas autorais que reforçam o tema. Paul Pompa III demonstra ambição e certo instinto por cenas de tensão, mas seu primeiro longa ainda está longe de traduzir essa ambição em coesão narrativa. A direção aponta caminhos interessantes — alguns enquadramentos funcionam, algumas decisões de mise-en-scène são promissoras —, mas falta mão firme para costurar tudo numa experiência envolvente e memorável. 

No fim, Just Breathe rende pouco do que promete. Não é um fracasso absoluto — tem qualidades de atuação aqui e ali, e uma preocupação estética capaz de gerar imagens inquietantes —, mas essas qualidades vivem em pedaços desconectados. O filme se vê preso entre o desejo de ser um estudo cruel e silencioso dos instintos humanos e a tentação de oferecer um desfecho que satisfaça expectativas de gênero. Para quem espera um thriller tenso e imprevisível, a trajetória pode frustrar; para quem busca personagem e atmosfera, há pequenos achados que valem atenção dispersa. No entanto, o saldo final é de oportunidade perdida: era material para um filme menor porém contundente; o que ficou foi um produto que se arrasta sem achar sua melhor forma. 

Se a pergunta for se Just Breathe tem algo a recomendar — sim: momentos de interpretação honesta, algumas imagens atmosféricas e a sensação constante de que o diretor sabe para onde quer ir. Mas a resposta mais sincera é que o filme escorrega onde precisava ser cirúrgico; e, quando a cirurgia narrativa é feita com instrumentos cegos, a ferida tende a não fechar direito. A obra termina parecendo um rascunho bem filmado: ideias válidas, fragmentos bons, mas sem o acabamento que as torne imprescindíveis.