Sophie Brooks assina com Oi, Sumido! um daqueles filmes que parecem perigosamente à beira do desastre — mistura de romance, suspense e comédia — e, surpreendentemente, atravessam essa corda bamba com notável equilíbrio. A premissa é simples e, ao mesmo tempo, explosiva: um fim de semana romântico que degringola quando a insegurança de uma das personagens vira ação irracional. Tudo se passa quase inteiramente dentro de uma casa, em poucos cômodos — e é exatamente essa claustrofobia espacial que o filme transforma em seu motor dramático. A sensação de confinamento amplifica a angústia e a curiosidade: quanto mais vemos os mesmos ambientes, mais sentimos o peso das escolhas de Isaac e a presença onipresente da instável Molly. Essa decisão de manter a ação restrita ao lar é um triunfo do design narrativo; é um exercício de contensão que dá ao público a impressão de estar preso junto com os personagens.
No centro do filme está a dupla de protagonistas: Logan Lerman como Isaac e Molly Gordon como Iris (a filmografia e as entrevistas indicam que Gordon participou também do desenvolvimento da história). A química entre eles é o que sustenta as voltas de tonalidade do roteiro — ora romântico, ora ameaçador, ora cômico. Lerman traz ao papel uma mistura de fragilidade e incerteza que funciona como anteparo para a intensidade errática de Gordon; quando ela parte para as medidas extremas, sentimos cada pequeno movimento de Isaac como se fosse nosso, porque a câmera e a montagem nos forçam a permanecer perto, sem atalhos emocionais. Essa proximidade é fruto tanto das atuações quanto da escolha de enquadramentos da diretora e do diretor de fotografia Conor Murphy: muitos planos médios e fechados, lentes que comprimem profundidade e um uso quase táctil da luz que destaca a textura dos objetos domésticos — o abajur que pisca, a parede com papel de estampas, a lâmina que corta a cena.
Tecnicamente, Oi, Sumido! joga com contradições. A trilha sonora de Steven Price equilibra-se entre momentos leves e atmosferas tensas, costurando as transições de gênero com sutileza — quando o filme precisa de humor, a música solta um sorriso; quando quer lembrar que estamos diante de algo mais perigoso, a mesma linha melódica se retorce. A edição de Kayla M. Émter trabalha como um metrônomo emocional: cortes que alongam a espera e, em seguida, cortes secos que dão choque. A câmera de Murphy não é chamativa; sua força está na economia dos movimentos, em deixar o ator respirar dentro do quadro até que o espectador sinta o ar rarefeito. É um filme que entende de textura — som, luz e montagem convergem para criar um espaço sensorial palpável.
No terreno do roteiro, Brooks (que assina o roteiro junto com Molly Gordon no argumento) brinca com expectativas. O filme poderia ter se perdido num pastiche de referências — lembrando aqui, não por acaso, ecos de Louca Obsessão pela ideia de um cativeiro romântico — mas prefere afinar seu próprio tom: às vezes sarcástico, outras vezes assustadoramente íntimo. O que salva Oi, Sumido! das armadilhas do exagero é sua honestidade sobre ciúme, desejo de posse e as feridas afetivas que habitam relacionamentos contemporâneos. O texto não precisa justificar cada ação com psicologia complexa; ele permite que a loucura apareça como fruto de um acúmulo de pequenos acontecimentos, de expectativas não comunicadas e de uma insegurançazinha que vira compulsão. Isso dá ao filme uma sensação de verossimilhança, mesmo quando a situação beira o absurdo.
As atuações secundárias também merecem menção: Geraldine Viswanathan e John Reynolds aparecem como peças que ajudam a modular o ritmo — nem sempre são grandes arcos, mas funcionam como contrapontos funcionais que impedem que a narrativa se torne uníssona demais. A direção de Brooks dá espaço para que os atores encontrem nuances; há momentos em que as camadas cômicas e dramáticas se sobrepõem de maneira tão natural que o resultado é um humor que incomoda por ser verdadeiro. Isso faz com que risos surjam no lugar certo — nem sempre de alívio, às vezes de nervoso — e que o filme se comporte como uma comédia amarga mais do que como uma leve comédia romântica.
Se há algo a criticar, é que o filme por vezes hesita entre aprofundar a jornada psicológica das personagens ou manter o pulso do entretenimento — e essa hesitação pode deixar algumas subtramas menos exploradas do que eu gostaria. Em alguns trechos, Oi, Sumido! parece querer dizer mais sobre a solidão e os medos da geração millennial do que consegue abarcar em sua hora e meia; ainda assim, prefere terminar com nota que busca esperança em vez de punir a loucura, o que pode incomodar espectadores que esperavam um olhar mais vilipendioso sobre o comportamento obsessivo. Mesmo essa escolha, no entanto, casa com o tom geral do filme: leve e ao mesmo tempo pesado, doce e inquietante — uma contradição que, contrariamente ao que o senso comum diria, é a sua maior força.
Em resumo: Oi, Sumido! é um filme que teria tudo para dar errado — mistura de gêneros, confinamento geográfico, personagens à beira do colapso — e, ainda assim, dá muito certo. Tem aquele tipo de economia narrativa e de direção de atores que deixa transparecer trabalho de afinação fina: tudo no nível ideal, bem dosado. É gostoso de ver porque, enquanto diverte, incomoda; enquanto seduz, amedronta. Sentimos na pele tudo o que Isaac sente, e essa empatia é um mérito raro. Para quem aprecia filmes que explodem dentro de espaços pequenos e sobrevivem apenas pela intensidade das personagens e do trabalho técnico, Oi, Sumido! é uma experiência sensorial e emocional que não esquece de ser divertida — mas que também não tem medo de cutucar o desconforto.
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