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novembro 07, 2025

O Massacre da Serra Elétrica 2 (1986)

 


Título original: The Texas Chainsaw Massacre 2
Direção: Tobe Hooper
Sinopse: Um ex-policial planeja vingança contra os maníacos mascarados que trucidaram seu sobrinho. Uma DJ, que é ameaçada pelo bando, se junta a ele para encontrar e exterminar os assassinos, antes que vire mais uma de suas vítimas.


É sempre um desafio analisar sequências de obras que, por si só, já possuem um peso cultural e cinematográfico significativo. O Massacre da Serra Elétrica (1974) permanece como um dos pilares do horror moderno, uma obra-prima de atmosfera sufocante, improvisação estética inteligente e um senso de realismo nauseante que marcou não apenas a década de 70, mas todo o imaginário de terror dali em diante. Portanto, quando Tobe Hooper retornou mais de dez anos depois a esse universo, agora sob o comando da Cannon Films, havia uma expectativa, ainda que modesta, de revisitar aquele terror visceral. Contudo, é lastimável o que Tobe Hooper, um mestre do terror, entrega aqui nessa sequência de talvez seu mais comentado filme.

O Massacre da Serra Elétrica 2 chega ao público em um momento muito distinto: Hooper, cansado de ser associado apenas ao terror sujo e realista, tenta imprimir no filme uma camada de humor negro grotesco, com tons de paródia e saturação visual. O filme entra tantas vezes na esfera do ridículo e o roteiro propositalmente escolhe o caminho do humor (quando não se deveria ter), que assistir ao longa torna-se algo constrangedor; quase como observar alguém tentando contar uma piada que não apenas não tem graça, como destrói a memória da história que a precedeu.

Desde as primeiras cenas, percebemos a diferença gritante de tom. Dois jovens dirigem bêbados por uma estrada texana, fazendo ligações para uma estação de rádio e zombando do mundo — mas a irritação que essa sequência causa é algo difícil de descrever. Um dos personagens é talvez uma das figuras mais irritantes que já vi no cinema, um amontoado de caricatura adolescente que parece existir apenas para que o espectador tenha vontade de desligar o filme antes mesmo que Leatherface apareça. Quando a morte finalmente chega, ela não traz o choque visceral do primeiro filme, mas sim um espetáculo de histeria exagerada e efeitos que já começam a demonstrar a preferência da produção por algo teatral, inflado e artificial.

Existem sim algumas cenas pontuais onde um pouco do Tobe Hooper de 1974 reaparece. São realmente nojentas. O uso do gore é elevado a um nível quase operístico, com carne deteriorada, ossos expostos, sangue em quantidade alarmante, corpos empilhados e um senso de decadência visual que, quando funciona, faz o estômago virar. Outro ponto que o diretor acerta a mão é no nojo que basicamente todos os personagens nos causam. Desde a primeira cena com os jovens dirigindo enlouquecidos (já mencionada), até o reencontro com os membros mais conhecidos da família Sawyer, como Chop Top (interpretado por Bill Moseley), um personagem que encarna o pior lado do humor nervoso, e Drayton Sawyer, que agora aparece em concursos culinários com seu famoso “chili especial”. Hooper, nesse sentido, tenta criar um espelho deformado da própria cultura americana — e até existe inteligência nessa camada — mas a execução é tão excessiva e descontrolada que a crítica se perde em meio ao grotesco cômico.

Entretanto, o que mais chama atenção é o tratamento dado a Leatherface. No filme original, ele não era apenas um antagonista: era um animal humano, uma força bruta descontrolada, um símbolo da violência doméstica americana escondida no interior rural profundo. Aqui, Leatherface se torna uma vítima, que ama, se apaixona e não causa terror algum. Ele mesmo basicamente quase não consegue matar ninguém e está bem longe de ser o personagem do filme original. Sua relação com a protagonista, a radialista Stretch (Caroline Williams), beira o absurdo, transformando o assassino icônico em algo próximo de um adolescente emocionalmente incompreendido. O problema não é necessariamente reinventar o vilão — algo que poderia ser interessante — mas sim esvaziá-lo até o ponto em que ele se torna uma piada trágica sem impacto.

Além disso, há um problema central de ambientação. Os cenários não são convincentes, ainda mais se compararmos com o local cru e nojento da casa onde se passa o primeiro filme. Aqui são simplesmente cenários extremamente confusos, complexos e com aspecto de filme B onde tudo é de isopor; cavernas subterrâneas coloridas como parques temáticos, espaços excessivamente elaborados e iluminados de maneira irregular, removendo todo e qualquer tipo de realidade que poderia causar desconforto genuíno. Se o primeiro filme dava medo porque parecia documental, este aqui falha porque nunca se acredita estar vendo algo que poderia existir no mundo real.

A trilha sonora também acompanha essa mudança de tom, substituindo o minimalismo opressivo do primeiro filme por músicas e efeitos sonoros mais espalhafatosos, tentando pontuar o humor e o absurdo. É uma escolha consciente mas, infelizmente, infeliz, pois destrói a espinha dorsal emocional que fazia Leatherface e sua família serem verdadeiramente assustadores.

No campo da atuação, destaca-se Dennis Hopper como Lefty Enright, um ex-policial obcecado em vingar a família assassinada pelos Sawyer. Hopper entrega uma performance completamente desequilibrada, mas ao contrário de elevar o absurdo a um nível genial, ele parece perdido em um roteiro que não sabe o que quer. Sua batalha final com motosserras é tão grandiosa quanto tola, culminando em um clímax que resume o filme: ruído, caos e nada mais.

No final das contas, como diria Fernando Collor, esse filme é “uma pantomima, uma patuscada, um devaneio, um sonho de uma noite de verão”. Tobe Hooper arrisca, subverte, exagera e tenta criar um espetáculo grotesco que dialogue com o próprio exagero dos anos 80. Mas o que se vê é um filme que mais destrói do que honra sua origem, transformando horror em farsa e medo em riso involuntário. Se há lampejos do diretor brilhante de 1974, eles brilham rápido demais, apagados por um humor que não encontra nem ritmo, nem propósito, nem respeito à própria tradição que carrega.

O Massacre da Serra Elétrica 2 é não apenas uma continuação desastrosa: é o retrato de um cineasta tentando lutar contra sua própria sombra — e perdendo.