Como sempre digo, mais uma porcaria do estúdio A24, é incrível como conseguem fazer coisas tão ruins de terror. Ou talvez seja eu mesmo, que tendo a detestar qualquer coisa do gênero, é tudo risível. Na maioria dos filmes de terror dou muitas risadas, mas em alguns como esse nem pra rir dá, é simplesmente enfadonho e ridículo.
Vendo Faça Ela Voltar eu tive a estranha sensação de estar preso numa sala com um filme que tenta, com todas as forças, convencer o espectador de que é profundo, enquanto, na prática, é apenas um amontoado de artifícios baratos e convenções recicladas. O ponto de partida — dois irmãos que vão morar com uma nova mãe adotiva e descobrem rituais sinistros — tem potencial dramático e algum viés inquietante no papel, mas a realização é tão desajeitada que transforma tudo em uma mistura arrastada de sustos previsíveis e diálogo que não funciona. A trama acompanha Andy e Piper entrando na casa da tal Laura, que cultiva um segredo ligado a uma tentativa de ressurreição; até aí, nada original, mas aceitável se bem feito.
Tecnicamente o filme se apoia no esquema já conhecido dos irmãos Philippou — pós-Fale Comigo — tentando repetir fórmulas de tensão interna: closes exagerados, trilha que insiste em manipular o corpo do espectador, e cortes bruscos que deveriam ser “estilísticos” porém soam apenas desajeitados. A fotografia (assinada por Aaron McLisky) tem momentos de composição correta, mas não há uma linha estética convincente que sustente a narrativa; a câmera parece nervosa sem motivo, como se a estética quisesse fazer o trabalho do roteiro. E o roteiro, ah o roteiro: escrito por Danny Philippou em parceria com Bill Hinzman, joga pedaços de mitologia oculta no colo do público sem a mínima paciência para explicar, integrar ou tornar aquilo minimamente crível. Não é arrojo, é preguiça disfarçada de mistério.
As atuações, que poderiam pelo menos servir de âncora emocional, também não ajudam. Há esforço, claro — alguns atores tentam salvar o que dá — mas o texto e a direção os deixam à deriva. Senti que interpretações foram forçadas em busca de “momento perturbador” em vez de verdade dramática; personagens reagem como marionetes programadas para um jump scare que nunca chega a ser surpreendente porque o filme já anunciou a intenção 20 minutos antes. A tentativa de transformar cenas domésticas em terrores íntimos falha porque jamais conseguimos nos importar com as pessoas na tela — consequência direta de diálogos artificialmente solenes e arcos psicológicos rasos.
O roteiro se apoia demais em imagens de impacto e simbolismos vagos — olhos vermelhos, mãos com marcas, rituais com objetos estranhos — como se repetindo ícones de terror fosse sinônimo de invenção. Isso não é inventivo: é preguiçoso. O ritmo torto também sabota qualquer tentativa de tensão genuína; há sequências que se arrastam e outras que explodem em um barulho seco, sem construção. O equilíbrio entre atmosfera e enredo simplesmente não existe; em vez de deixar o silêncio falar, os diretores preferem preencher tudo com efeitos sonoros e close-ups histéricos. Resultado: o espectador fica cansado, entediado e, pior, irritado.
E eu preciso ser franco: a famosa aura “art house de terror” que A24 costuma vender aqui funciona como fachada para falta de substância. Existe uma diferença entre fazer um filme intimista e fazer um filme que se acha profundo porque repete símbolos de dor e perda sem paciência para construir personagens que convençam. Faça Ela Voltar se esconde atrás de uma máscara de suposta profundidade enquanto drena qualquer empatia que poderia gerar. A tal “ressurreição” central ao enredo jamais ganha densidade dramática — vira apenas um macete para cenas gráficas pontuais, que soam gratuitas e, muitas vezes, constrangedoras em vez de perturbadoras.
Também é irritante perceber o quanto o filme tenta se conectar a uma “mitologia” maior (há até material promocional sugerindo ligações com outros filmes dos diretores), uma estratégia de marca que funciona para merchandising e hype, mas que aqui serve para mascarar o vazio do filme em si. Quando obras dependem mais de referência externa e universo expandido do que de coerência interna, é porque não têm coragem de assumir seus próprios limites narrativos. Em termos simples: preferem vender um universo do que contar uma história decente.
No fim das contas, o que sobra é a sensação de ter sido enganado por um filme que prometeu medo e ofereceu tédio. Se você for daqueles que tem paciência com linguagem visual e experimentação, pode até encontrar algum frame bonito aqui e ali, mas convenhamos: frames bonitos não pagam uma narrativa. E insisto: não há brilho real em Faça Ela Voltar. É produção com embalagem estilosa e conteúdo raso; é cinema que se orgulha de ser enigmático enquanto, na verdade, é apenas confuso e sem coragem de se comprometer com uma ideia minimamente coerente.
Para quem espera um terror que funcione no nível emocional ou intelectual, a decepção é garantida. Resta a frustração de ver tempo e recursos bem gastos em imagens que não dizem nada relevante e de perceber que o curioso culto em torno de rótulos como “A24” e “diretores de Fale Comigo” às vezes serve mais para inflar expectativas do que para entregar cinema de qualidade. Em vez de um filme que arrepia, temos um produto que empalidece qualquer tentativa de envolvimento verdadeiro — e isso, para mim, é imperdoável.
.webp)