Quando ouço falar de slashers hoje em dia, confesso que me pego num dilema: não sei até que ponto sou eu que detesto filmes de terror — especialmente esses de “adolescentes correndo do assassino” — e dou risada de todos, ou se são justamente eles que normalmente são tão mal feitos que merecem esse deboche. Pois bem, esse novo Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado parece conspirar para manter essa confusão interna minha.
A premissa, aliás, é tão familiar que beira o genérico: cinco jovens amigos — Ava, Danica, Milo, Teddy e Stevie — causam um acidente de carro mortal e decidem guardar segredo, em vez de fazer a coisa certa. Um ano depois, o passado retorna para assombrá-los quando alguém começa a matá-los, e eles se veem obrigados a buscar ajuda de duas figuras conhecidas: Julie James (Jennifer Love Hewitt) e Ray Bronson (Freddie Prinze Jr.), sobreviventes do massacre de Southport de 1997.
O tom desse filme, em vários momentos, parece querer unir a nostalgia dos anos 90 com algo “relevante e moderno”: há tentativas de comentar sobre poder, privilégio, trauma não resolvido e até crime verdadeiro, com menções a um podcast “Live Laugh Slaughter” como parte da investigação. A diretora Jennifer Kaytin Robinson afirma que estava interessada em ir além do simples slasher, explorar como traumas não processados – aqui representados por Ray – podem se manifestar de forma violenta. Mas, infelizmente, o filme oscila tanto entre o terror brutal e uma comédia boba que o suspense que poderia surgir daí nunca engrena de verdade.
Tecnicamente, a direção de Robinson tem seus méritos: há escolhas visuais eficientes no uso da câmera para aumentar a presença ameaçadora do assassino (o “pescador”), e a trilha sonora e design de som, em alguns momentos, funcionam bem para a atmosfera clássica de slasher. Porém, o ritmo sofre bastante. A edição parece fora de lugar — ora arrastada, ora apressada — e algumas das mortes, embora sanguinolentas, não têm a cadência necessária para realmente chocar. Além disso, os jump scares aparecem de forma previsível e com barulhos exagerados, o que rende sustos baratos e pouco eficazes.
No que diz respeito ao elenco, a ideia de reunir o time original com a nova geração poderia soar promissora, mas acaba sendo, na prática, desconfortável. Freddie Prinze Jr. retorna como Ray Bronson mas sua presença é uma espécie de alívio nostálgico que não se sustenta dramaticamente. E… socorro: ele envelheceu mal para esse tipo de papel — a atuação soa deslocada, e os diálogos que lhe deram soam risíveis, em vez de melancólicos ou carregados de peso. Já Jennifer Love Hewitt, como Julie, até tenta trazer algo de experiência e dor acumulada, mas o roteiro pouco aproveita sua presença de forma significativa, relegando-a a coadjuvante motivadora mais do que protagonista ativa.
Quanto aos jovens — Chase Sui Wonders, Madelyn Cline, Jonah Hauer-King, Tyriq Withers, Sarah Pidgeon — há vontade de criar uma nova “turma vítima”, mas os personagens são tão estereotipados que pouco envolvem. Eles bebem, se drogam, festejam com descontrole, seguem o manual clichê dos anos 1990 sem trazer nada de realmente novo. Esse comportamento, que provavelmente deveria parecer hedonista e perigoso, acaba só soando superficial — e o filme, no fim das contas, parece reclamar nostalgia, mas se recusa a sair da fórmula batida. É justamente esse tipo de estrutura que me irrita: segue a mesma fórmula famosa dos anos 1990 — exatamente a de jovens curtindo, bebendo, se drogando, fazendo festas de forma descontrolada — e, claro, com um assassino atrás deles. É datado, previsível e até entediante.
E então vem o plot twist, essa parte que para muitos deveria ser a virada dramática, o momento de arrepiar ou chocar… mas que, nesse filme, é de dar risada. Sem entregar spoilers demais, posso dizer que a revelação final — que tenta brincar com trauma, culpa e poder — simplesmente não convence. A motivação do vilão perde força, e a “surpresa” soa tão forçada que vira piada. O desfecho é tão pouco consistente que parece que o roteiro ficou entre querer ser profundo e abraçar a nostalgia, mas acabou abraçando nenhum dos dois de verdade.
Se me perguntarem se esse remake/continuação assusta, eu digo: não. Nada nesse gênero me assustou até hoje. E aqui nesse exemplo, nem me incomodou de verdade, a não ser pelo desperdício de potencial. Claro, alguns clássicos do terror ainda se salvam em capricho e boa produção para mim, mas esse não entra nessa categoria. Desde os anos 1990, para mim, esse tipo de terror virou palhaçada — e essa nova versão de Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado me convence que tenho razão. É quase uma comédia mal feita disfarçada de terror.
Talvez o maior pecado desse filme esteja na promessa de algo mais — mais densidade, mais crítica, mais impacto — e na entrega de tão pouco. A direção busca uma espécie de densidade psicológica, os produtores queriam nostalgia, o público parece dividido entre os fãs antigos e os jovens curiosos. Mas o resultado final é um híbrido desajeitado: visualmente competente às vezes, mas vazio em emoção; sangrento às vezes, mas nunca verdadeiramente assustador; nostálgico, mas sem alma.
No fim das contas, saí com a sensação de que esse Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado é um filme que vive mais de passado do que de presente — preso entre homenagear um clássico e justificar sua própria existência. E, para mim, isso basta para que ele falhe: porque se nem o original não assusta, não intriga ou não se sustenta por si só, qual era o propósito de trazê-lo de volta?
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