Páginas

novembro 28, 2025

Entre Nós: Uma Dose Extra de Amor (2025)

 


Título original: The Threesome
Direção: Chad Hartigan
Sinopse: Em uma noite, tudo parece dar certo para Connor quando Olivia, sua paixão de longa data, os leva a um ménage à trois com a sedutora Jenny. O encontro dá início a um relacionamento entre Connor e Olivia, e o amor deles cresce rapidamente. O romance logo é destruído quando Jenny reaparece em suas vidas, lançando os três em uma jornada rumo à responsabilidade e à vida adulta.


Entre Nós: Uma Dose Extra de Amor (no original The Threesome), de Chad Hartigan, chega como uma comédia romântica que se presta a desconstruir, com candura e algumas hesitações, aquilo que o cinema costuma chamar de “crescer”: a história acompanha Connor, Olivia e Jenny — personagens interpretados com compromisso pela trinca Zoey Deutch, Jonah Hauer-King e Ruby Cruz — e transforma uma noite impulsiva em um longo exercício sobre consequências, responsabilidade e o jeito desajeitado com que a vida adulta insiste em chegar. A trama, escrita por Ethan Ogilby, não tenta disfarçar sua ambição: partir de um ménage casual para tocar em temas como paternidade inesperada, amadurecimento emocional e a tensão entre desejo e compromisso é arriscado, e Hartigan dirige com uma mistura de leveza e nervo que ora funciona, ora se perde por tentativas de equilibrar comédia e drama de forma demasiadamente literal. O roteiro, curioso por costurar a narrativa em trimestres — uma escolha estrutural que imprime ritmo e contagem regressiva à crescente urgência dos eventos — constrói bons momentos de diálogo e pequenos ganchos emocionais, mas por vezes recai em personagens que parecem mais esboços simpáticos do que seres humanos plenamente contraditórios; ainda assim, há cenas em que a empatia surge com facilidade, sobretudo quando a câmera deixa espaço para as pequenas vergonhas e as falas nervosas de quem tenta, pela primeira vez, assumir responsabilidades reais. 

Tecnicamente o filme faz escolhas coerentes com sua proposta íntima: a fotografia de Sing Howe Yam aposta em enquadramentos próximos e paletas que alternam calor doméstico e frieza urbana, sustentando a sensação de que os personagens navegam constantemente entre conforto e desconforto; há uma estética de proximidade que favorece as performances, e que funciona bem nas cenas de diálogo estendido, embora em alguns momentos Hartigan pareça relutar em abrir o plano quando a cena pede detalhamento — e nisso o filme perde a oportunidade de transformar pequenos gestos em imagens memoráveis. A montagem de Autumn Dea, por sua vez, equilibra bem os saltos temporais e os cortes de humor, imprimindo um compasso que evita que a trama torne-se apenas uma sucessão de incidentes; há, porém, instantes em que a edição opta pelo atalho emocional, buscando resolver tensões com cortes que preferem a economia ao aprofundamento. A trilha de Keegan DeWitt está exatamente onde o filme precisa: discreta quando exige sensibilidade, sorridente nas passagens cômicas, e capaz de sublinhar sem manipular demais. 

As performances são o motor mais confiável da narrativa. Zoey Deutch constrói uma Olivia que mistura dureza e fragilidade com uma naturalidade muitas vezes cativante; há momentos em que sua personagem poderia virar caricatura, mas a atriz encontra sutilezas — gestos, inflexões, pequenos recuos — que a mantêm humana. Jonah Hauer-King dá corpo a Connor com uma ingenuidade simpática que funciona como antídoto para a autopiedade: seu personagem não é totalmente heroico, mas a entrega do ator faz com que sua falha — ou sua imaturidade inicial — não seja fatídica, e sim terreno para transformação. Ruby Cruz, por sua vez, oferece uma Jenny mais contida, cuja força reside na modulação emocional; o filme surpreende ao permitir que parte da carga dramática venha dessa discrição, e a atriz tira proveito disso ao mostrar que presença não precisa ser sinônimo de excessos. O elenco de apoio — entre eles Jaboukie Young-White, Josh Segarra e Julia Sweeney — contribui com notas de alívio cômico e humanidade que ajudam a tornar o universo ao redor do trio mais crível.

Narrativamente, Entre Nós se beneficia quando aceita o desconforto: as melhores sequências são as que deixam a situação permanecer estranha, onde o riso e a vergonha coexistem e o espectador é convidado a manter um pé em cada terreno — o do riso fácil e o do afeto complicado. Em contrapartida, o filme por vezes adere a um moralismo sutil que soa como um recuo: a premissa sexual é tratada com alguma condescendência, e há momentos em que o roteiro parece preferir punir ou redimir em vez de simplesmente observar. Essa ambivalência tonal é o que torna a obra menos coesa — o equilíbrio entre a comédia romântica à moda antiga e o drama contemporâneo é delicado, e nem sempre alcançado. Essa oscilação entre o afeto sincero e escolhas narrativas soa conveniente demais, e é justo dizer que o filme sai-se melhor quando aceita sua própria bagunça emocional do que quando tenta polir às pressas suas arestas. 

No balanço final, Entre Nós: Uma Dose Extra de Amor é um filme que vale sobretudo pelas interpretações e pela honestidade de algumas ideias — a ideia de que a “vida adulta” não chega de uma hora para outra, mas é forjada em encontros desajeitados e decisões improvisadas é tratada com humanidade —, mas que sente falta de uma voz mais firme para transformar suas intenções em algo completamente memorável. Chad Hartigan demonstra sensibilidade para as cenas de intimidade emocional e competência para extrair humor do embaraço, mas por vezes se esquiva de aprofundar a complexidade moral que a premissa exige. Ainda assim, para quem procura uma comédia romântica que não se entrega apenas ao riso fácil, que privilegia o trabalho com atores e que não tem medo de mostrar as consequências — mesmo que às custas de um ritmo irregular —, o filme entrega suficientes momentos de ternura e reflexão para justificar a sessão. É uma obra com falhas visíveis, mas também com achados sinceros: no fim, fica a impressão de uma comédia romântica do século XXI tentando lembrar-se de que o humor pode e deve conviver com as perguntas difíceis sobre amor, responsabilidade e os passos trêmulos de quem aprende a cuidar.