O burburinho em torno do lançamento de Elio foi tanto que me fez ter vontade de assistir — e, para minha surpresa, me diverti muito mais do que esperava. A nova animação da Pixar, dirigida por Madeline Sharafian, Adrian Molina e Domee Shi, é leve, colorida e despretensiosa. Não tem a profundidade emocional de outros títulos do estúdio, mas cumpre com eficiência o papel de entreter, encantando pelo visual e pela mensagem singela.
A trama acompanha Elio Solís (voz de Yonas Kibreab), um garoto hispânico de onze anos que vive com a mãe, Olga (Zoe Saldaña), em uma base militar. Inseguro e deslocado, ele é acidentalmente transportado para o Comuniverso, uma organização que reúne espécies de toda a galáxia. Lá, é confundido com o embaixador da Terra e precisa representar o planeta diante de criaturas exóticas e sistemas de poder desconhecidos.
Desde os primeiros minutos, Elio mostra que não é um filme típico da Pixar — e isso é algo positivo. Ele se afasta da megalomania emocional de produções como Soul ou Divertida Mente e aposta numa história simples, quase infantil, com um humor leve e visualmente deslumbrante. E, ao contrário do que alguns temiam, o filme não é “woke”. Há diversidade, sim — Elio é hispânico, o alienígena Glordon é gay, Lord Grigon é o pai opressor —, mas tudo aparece de forma natural, sem forçar discursos. Os estereótipos estão ali, mas usados com graça, como parte do universo que o filme cria, não como bandeira ideológica.
Tecnicamente, Elio é impecável. O contraste visual entre a Terra e o Comuniverso é impressionante: o primeiro, cinzento e rígido; o segundo, vibrante e cheio de luz. O design de produção e a direção de fotografia virtual (Derek Williams e Jordan Rempel) criam mundos que parecem pulsar. A trilha de Rob Simonsen complementa bem esse universo, alternando tons de aventura e contemplação. Já a edição, de Anna Wolitzky e Steve Bloom, mantém o ritmo ágil, sem deixar o filme cansativo.
Outro mérito está na variedade de criaturas e ambientes alienígenas. Cada espécie tem personalidade e textura próprias, demonstrando o cuidado característico da Pixar com o detalhe. A animação facial é expressiva e os personagens têm carisma suficiente para sustentar o roteiro, que, ainda que previsível, é eficaz. Não há grandes reviravoltas ou camadas filosóficas, mas a simplicidade aqui funciona como virtude: Elio sabe o que quer ser e entrega isso com sinceridade.
O elenco de vozes também é bem escolhido. Yonas Kibreab transmite a insegurança e a curiosidade do protagonista, enquanto Zoe Saldaña oferece calor humano à tia e Brad Garrett diverte como o autoritário Lord Grigon. O humor surge de forma orgânica, especialmente nas interações entre Elio e Glordon, um alienígena adorável que carrega boa parte do carisma do filme.
Apesar de toda a competência técnica, Elio não é memorável. É o tipo de animação que se assiste com prazer, mas que não deixa uma marca profunda. Ainda assim, enquanto estamos diante da tela, o resultado é um espetáculo visual e emocionalmente honesto. O filme diverte, emociona de leve e encanta pelas cores, sem precisar de grandes pretensões.
A direção coletiva de Sharafian, Molina e Shi parece compreender que, às vezes, a melhor maneira de tocar o público é justamente não tentar ser grandioso. O filme fala sobre aceitação e pertencimento, mas de modo simples e direto, como uma fábula moderna sobre encontrar o próprio lugar no universo. E talvez essa seja sua força: o equilíbrio entre diversão e ternura, sem didatismo ou peso moral.
Em última análise, Elio é um respiro dentro do catálogo recente da Pixar. Um filme que se destaca por sua leveza, por seu humor sincero e por um olhar infantil que não subestima o espectador. Realmente muito divertido, colorido e agradável em todos os sentidos. Memorável? Não. Mas, durante a sessão, é puro entretenimento — e, às vezes, isso basta para um cinema que ainda sabe sonhar.
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