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julho 05, 2025

Jurassic World: Recomeço (2025)

 


Título original: Jurassic World Rebirth
Direção: Gareth Edwards
Sinopse: Este novo capítulo acompanha uma equipe intrépida que corre contra o tempo para obter amostras de DNA das três criaturas mais colossais da terra, do mar e do ar. Cinco anos após os eventos de Jurassic World: Domínio, a ecologia do planeta se mostrou amplamente inóspita para os dinossauros. Os remanescentes existem em ambientes equatoriais isolados, com climas semelhantes àqueles nos quais prosperaram no passado. As três criaturas mais colossais dessa biosfera tropical possuem a chave para um medicamento com benefícios milagrosos que podem salvar vidas humanas.

Jurassic World: Recomeço (2025), dirigido por Gareth Edwards, é uma produção que beira o desastroso apesar de milhões investidos.

Desde o início, fica cristalino que o roteiro mais lembra um exercício acadêmico mal executado por um calouro que ainda soltava gírias como “só lendo o Manual do Roteiro do Syd Field” e tentando montar suas primeiras páginas com cenas desconexas. A aparição dos super-dinossauros mutantes — híbridos que parecem saídos de um filme B qualquer — chega sem aviso, sem justificativa ou coerência. Uma tentativa triste de justificar a mutação ameaça com uma sequência introdutória em minutos, mas basta — depois disso, silêncio. Todo o potencial narrativo se esvai em diários e vozes robóticas, e o espectador já sabe exatamente quem morrerá, quando, e como – enfim, os únicos sustos acontecem com a torcida para que alguém finalmente interrompa esse roteiro preguiçoso.

Enquanto isso, Steven Spielberg aparece nos créditos como produtor executivo — e a pergunta que não quer calar é: como alguém que reescreveu o cinema com Jurassic Park (1993) pode manchar sua reputação com um filme tão desastroso? A sensação é que Spielberg entregou seu legado e saiu de cena. Recomeço não carrega nem o charme nem a leveza que ele imprimia às produções nas quais se envolvia — soa mais como uma cópia mal feita do que qualquer herança digna .

O orçamento declarado foi de US$ 180 milhões, com arrecadação bilionária no fim de semana de estreia — US$ 147,3 milhões só nos EUA e US$ 318,3 milhões globalmente . O problema: esse dinheiro não se converteu em qualidade. Os dinossauros CGI lembram criaturas de videogame de console médio — transparentes, sem massa, e completamente carentes de verossimilhança. Enquanto o filme original de 1993, já com 30 anos, usou com maestria uma combinação de CGI e animatrônicos, aqui parece que ninguém pensou em mecatrônicos: os efeitos são totalmente virtuais, mal renderizados e posicionados sem preocupação com ilusão de peso ou textura real — o Reddit até já definiu como “quase parece rodando no PlayStation” .

Mesmo com Gareth Edwards, conhecido por Godzilla e Monstros, no comando, e com a cinematografia de John Mathieson tentando resgatar ambientes tropicais vibrantes, o impacto visual se perde em meio ao queixo caído do expectador diante de animações descartáveis. A sensação é que houve preguiça de planejamento ou falta de tempo de render com qualidade — especialmente ao comparar com Jurassic Park, onde Spielberg sabia dosar realismo e silêncio com maestria.

Tanto o roteiro quanto a direção parecem ter inibido qualquer tentativa de interpretação emocional por parte dos atores. Scarlett Johansson ainda consegue formular frágeis ecos de emoção em rosto bonito, mas é constantemente refreada por clichês e falas robóticas. Em entrevistas, ela admite que sua mercenária “Zora Bennett” tem um arco programado por gente que nem se preocupou em torná-la humana .

Há inclusive confusões geográficas quase infantis: o roteiro coloca a ilha a “x quilômetros da costa da Guiana Francesa”, depois argumenta que o grupo está no Suriname — onde se fala holandês — e exibe personagens falando em francês em Paramaribo. Compromisso zero com realidade: a falha do roteiro em aspectos básicos de ambientação é alarmante .

Há várias cenas que tentam reproduzir momentos icônicos do original — o T. Rex saltando sobre uma criança escondida, in loco, surge, mas agora em bote inflável; o momento de reverência a um saurópode (mas trocando o Braquiossauro por um Titanossauro). A intenção é homenagear, mas a execução é genérica: o que era tensão e awe se transforma em reprise medíocre. A crítica no Rotten Tomatoes lembra que “não evolui, apenas repete” . É reciclagem malfeita, encheria de nostalgia sem alma que reforça o sentimento de estar diante de uma farsa reflexiva — e não de uma franquia que ainda tem algo a oferecer.

É curioso que, no meio desse lamaçal narrativo e visual, exista um respiro nostálgico: a inclusão da trilha clássica de John Williams — ou melhor, versões adaptadas por Alexandre Desplat — é, sem dúvida, o melhor do filme. Integrada com elegância, especialmente nas sequências iniciais e finais, a “Jurassic Park Theme” consegue momentaneamente resgatar sensações das gerações que assistiram ao original em 1993 .

Mas não se engane: a música de Williams não é capaz de salvar o naufrágio. Serve apenas como um lembrete distante do que poderíamos ter tido. Há um certo calor nostálgico, contra todas as expectativas, que talvez esteja mantendo as bilheterias acima de zero — ainda que não salve a desprezível experiência como um todo.

Sim. Se Jurassic World já andou na corda bamba entre dinosaur movie e ridículo, Recomeço desce um degrau além: vira um filme de monstros tipo Godzilla, com híbridos grotescos chamados Distortus Rex e Titanossauros, distanciando-se completamente da premissa de “como eram os dinossauros na vida real”. Há uma explicação mínima, entregues em cerca de cinco minutos de diálogo-forçado no início — e depois o roteiro esquece totalmente o assunto 

O saldo final é: narrativa vazia, personagens vazios, efeitos vazios — tudo salvo por uma trilha que nos lembra que algum dia houve magia por aqui. Mas essa centelha solitária não é suficiente para evitar que Recomeço seja o ponto mais baixo da franquia desde o fiasco mais escancarado. Os fãs dedicados — como o próprio autor que aqui escreve — podem reconhecer um reflexo de nostalgia; mas evitar a decepção requintada com o roteiro genérico e a trama feita por amadores é praticamente impossível.

Jurassic World: Recomeço não é só um filme ruim — é um marco lamentável de complacência em Hollywood: uma produção trilionária que parece feita sem paixão, engajada apenas em cash-grab, recauchutando cenas clássicas, e fingindo manter o legado de Spielberg, enquanto simultaneamente o destrói. O roteiro amador, os efeitos de videogame, os diálogos de plástico e a ambientação fantasiosa se unem em um espetáculo de vazio criativo.

O único ponto louvável é essa quase antiquíssima trilha de John Williams, que, se toca seu coração, é porque, em algum momento, alguém soube como contar uma história com maturidade, emoção e respeito pelo público. Recomeço é, infelizmente, a lembrança amarga de que nem isso basta para sustentar um filme. A maior tragédia? Esse pode ser o fim melancólico de uma saga que merece descanso — e que jamais recupere seu prestígio. A amarga conclusão: um filme que promete Renascimento mas dá sepultura à própria lenda. Uma das piores produções da saga Jurassic.

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