A nova comédia romântica da Netflix, Meu Ano em Oxford (My Oxford Year, 2025), dirigida por Iain Morris, se revela, em toda a sua extensão, como uma tentativa tão preguiçosa quanto entediantemente transitória de oferecer algo minimamente romântico. Do ponto de vista técnico, ainda que a fotografia seja, por vezes, correta — com Oxford aproveitada como cartão-postal —, o que se vê é superficialidade disfarçada de elegância histórica.
Tecnicamente, o filme conta com a preciosa localização real na Universidade de Oxford — Biblioteca Bodleiana, Magdalen College, St Hugh’s, Hertford College, além da cidade de Windsor. Contudo, o que poderia enriquecer o visual não se traduz em densidade narrativa, dada a narrativa tão minimalista que parece encolhida entre esses corredores seculares. Na prática, parece que todas as cenas se concentram nas mesmas duas quadras e corredores, fazendo com que o espectador sinta saudade de alguma variação visual. Há a impressão de economia de locações vestida como "estilo": é um campus que nunca deixa de ser o mesmo, em círculos cansativos.
O enredo é de banalidade por excelência: Anna, americana e ambiciosa, chega à Oxford para estudar poesia, adia uma carreira já garantida em Wall Street para se envolver com Jamie, o britânico charmoso, tutor de literatura. Encontram-se da forma mais constrangedoramente orquestrada possível — colidem com carro numa poça exagerada, depois descoberta do professor substituto… um encontro propositalmente forçado para supostamente gerar química. A sequência de cenas é previsível e preguiçosa, os diálogos não conseguem disfarçar os clichês, as piadinhas não causam riso — apenas constrangimento alheio.
E quando achamos que o roteiro poderia surpreender, ele mergulha ainda mais fundo em suas contradições: Jamie guarda um “segredo inimaginável” (como prometido nas sinopses) — um artifício trágico que aparece tardiamente, não como um choque genuíno, mas como um recurso para fingir profundidade. É o drama deslocado, sem impacto real, desenrolado no ritmo de um filme que roda em círculos. Tudo isso já é anunciado de longe: sabemos exatamente como será o ato final, o ápice emocional é previsível e o desfecho segue o roteiro padrão dos romances diletantes.
O texto, inspirado no romance de Julia Whelan e adaptado por Allison Burnett e Melissa Osborne, sofre de um problema grave: falta de originalidade. Como observou um crítico alemão — e aqui cabe a melancólica elegância da precisão —, o filme “é tão previsível quanto um beijo na chuva” e marca, em todas as suas linhas, que “cenas românticas são azucrinadas, sem jamais tocar o coração”. Benjamin Lee, do The Guardian, resumiu bem: falta profundidade emocional, resultando em uma experiência esquecível.
Artisticamente, é difícil encontrar um vestígio de genuinidade. As atuações de Sofia Carson e Corey Mylchreest até se esforçam, mas são soterradas pelo roteiro sem faísca. Carson aparece discreta, pouco magnética; Mylchreest mostra potencial, mas seria preciso um texto mais sagaz para extrair algo mais de sua interpretação, e não um rosto bonito emoldurado em situações desgastadas.
O filme tenta se vestir de “diversidade moderna”, com a protagonista de ascendência latina, a chamada “representatividade” que quer mostrar: “alguém com ascendência latina pode ter voz no mundo”. Mas isso parece mais performático do que orgânico — um “woke lamentável” que, em vez de acrescentar reflexão, serve de adorno vazio. O que deveria ser uma chance de ampliar o panorama humano acaba sendo um clichê maquilhado.
A narrativa é extremamente longa (113 minutos), mas não em sentido produtivo. É entediante e arrastada – gira sobre os mesmos pontos repetidamente, com diálogos que retornam ao “não é sério, mas talvez seja” até que o espectador espera que tenham peças de roteiro no lugar dos personagens.
Do ponto de vista de plataforma, o filme é mais um exemplo da especialidade recente da Netflix em produções niveladas por baixo — “mais um lixo da Netflix”, para quem gosta de linguagem direta — priorizando volumes, expectativas algorítmicas, em vez de arriscar uma história com alguma coragem, alguma tensão real. A quarentena da alma é visível até no mínimo sorriso forçado das cenas.
Meu Ano em Oxford é ruim. Péssimo em praticamente todos os aspectos: estrutura narrativa preguiçosa, elenco limitado por falhas do texto, ambientação subutilizada, clichês românticos batidos, piadas que geram vergonha alheia, e um discurso identitário sem substância. O enredo flutua sem propósito, gira em torno de lugares e sentimentos reciclados, e insiste em cores pastel onde só há bege emocional. Se você, como eu, já detesta filmes de romance — por achar tudo tão artificial —, este é o ápice do que torna o gênero entediante e previsível. E sim, a Netflix parece cada vez mais empenhada em enfiar no catálogo essas rom-coms genéricas que não trazem nada além de suas próprias fórmulas.
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