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agosto 08, 2025

Maria Callas (2024)

 


Título original: Maria
Direção: Pablo Larraín
Sinopse: Maria Callas, a maior cantora de ópera do mundo, vive os últimos dias de sua vida na Paris dos anos 1970, enquanto confronta sua identidade e vida.

Pablo Larraín nos apresenta uma cinebiografia quase onírica de sua terceira musa feminina icônica, Maria Callas, ao lado de Jackie (2016) e Spencer (2021), cumprindo essa “trilogia das mulheres trágicas” de forma esteticamente exuberante, ainda que narrativamente falha.

Se há um ponto incontestável de brilho — e este é o principal motivo para conceder qualquer “elogio” ao filme — está nos diversos estilos de fotografia utilizados por Edward Lachman. Ele alterna entre negativos em preto e branco, Super-8, 16 mm e sequências em cores vibrantes, criando uma narrativa visual que é literalmente digna de uma pintura renascentista. Os enquadramentos são amplos, quase cirúrgicos, e os ambientes de interior, especialmente o suntuoso apartamento parisiense de Callas, servem tanto como cenário quanto como extensão de suas angústias. Não se pode negar a beleza plástica: cada plano compõe uma moldura que justifica — infelizmente com pouco mais do que isso — o filme.

Angelina Jolie, em sua performance, entrega uma Maria Callas enigmática e elegante, mas que, para mim, permanece apenas mediana. Não é a atriz que salva o filme — ela não resgata sua alma — é apenas funcional. Sua dedicação vocal é visível e ela treinou intensamente durante sete meses para cantar e sincronizar-se com as gravações originais de Callas. Há momentos de intensidade, mas faltou algo mais visceral: ela não incendeia a narrativa, apenas a percorre com polidez.

O enredo — que se concentra nos sete dias que precedem a morte de Callas, numa mistura de flashbacks, entrevistas alucinatórias e memórias descontínuas — é desconexo ao ponto de afastar o espectador. A estrutura é abstrata, repleta de alucinações e desvios estéticos, mas carece de uma linha narrativa coerente capaz de envolver quem não domina o histórico da diva. Quem chega sem conhecimento prévio fica desnorteado: personagens centrais — como Onassis, interpretado por Haluk Bilginer — aparecem sem contextualização ou carga dramática suficiente para torná-los críveis ou conectados à trama.

Eu já tinha completa falta de interesse em ópera antes de assistir; depois dessa experiência, senti apenas exaustão. Os agudos intensos, num fone de ouvido, ressoam como gritos insistentes que acabam por doer. E não é culpa apenas da atriz ou da gravação: a proposta de Larraín — em sua pompa visual — suprime o impacto emocional e, pior, o interesse. É um sacrifício visual à estética, que elimina a empatia pela arte que se pretende homenagear.

Larraín já mostrou que é capaz de compor atmosferas em Spencer — o único de seus filmes que me trouxe imersão emocional. Aqui, repetiu a fórmula: mulher poderosa, isolamento, crise existencial, estética refinada. Mas a tal hora que esse fascínio por mulheres icônicas cai na repetição vazia, é hora de dar um basta a esse tipo de cinebiografia soporífera.

Aquilo que era para inspirar — o universo da ópera —, para mim, virou tédio. Longe de aguçar a sensorialidade, os agudos se tornam incômodos, os excessos estéticos diluem qualquer reverência. A ópera, em vez de elevar, afasta — e com ela, meu interesse nessa arte. O que era paixão virou suspiro exausto.

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